José Geraldo Neres é um desses escritores que fogem de tudo que possa parecer óbvio, está sempre em busca do desafio que os novos horizontes proporcionam. Enquanto a poesia brasileira contemporânea, boa parte dela, pelo menos, se enrosca num hermetismo estéril e inútil, numa autoprospecção egótica e metapoeticamente exibicionista, Neres submerge na memória, não na dele, mas na de todos nós, desprovido de parafernálias, ciente apenas de seu próprio fôlego, para trazer, do fundo do oceano obscuro, ostras contendo pérolas. Cabe a nós, leitores, abri-las para extasiarmo-nos com os seus poemas em prosa, gênero difícil, porque híbrido, e fascinante, porque completo. Olhos de Barro é isso: uma oferenda ao deus dos leitores inteligentes.
Luiz Ruffato, escritor brasileiro.